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Todos os dias, 16 pessoas perderam a vida em acidentes nas rodovias federais brasileiras entre janeiro e agosto de 2024. Dados da Polícia Rodoviária Federal (PRF) revelam que, no período, foram registrados 47.703 acidentes e 3.992 mortes. Apesar de representarem mais da metade dos motoristas habilitados no Brasil na categoria B, as mulheres se envolveram menos em acidentes fatais no trânsito no período analisado.
O senso comum, frequentemente manchado por estereótipos machistas, insiste em classificar a mulher como um perigo ao volante. Mas dados da PRF contam uma história diferente: acidentes envolvendo condutoras resultaram em 150 mortes entre janeiro e agosto. Já as ocorrências envolvendo condutores resultaram na morte de 2.317 pessoas. “Apesar de representarem mais da metade dos motoristas, há uma diferença gritante entre o número de mortos envolvendo condutoras e condutores”, comenta a psicóloga especialista em Trânsito Adalgisa Lopes, presidente da Associação de Clínicas de Trânsito do Estado de Minas Gerais (ACTRANS-MG).
Nas estatísticas divulgadas no site da PRF, não consta o sexo do condutor em todos os acidentes. Em 2.467 casos em que o sexo do condutor foi informado, a esmagadora maioria das mortes (2.317) foi registrada em ocorrências envolvendo condutores masculinos.
Segundo Adalgisa, a menor incidência de acidentes envolvendo mulheres se deve a uma série de fatores, entre eles a maior prudência e menor agressividade ao volante. “Na avaliação psicológica, principalmente no teste de personalidade, é possível verificar que os traços de agressividade são mais presentes nos homens”, explica.
A especialista explica que isso se deve a questões culturais e históricas. “Desde a época das cavernas, os homens eram incentivados à caça e à competição, enquanto as mulheres se dedicavam ao cuidado da família e da comunidade. Essa diferença se reflete no comportamento no trânsito, com os homens mais propensos a correr riscos e desrespeitar as leis.”
A psicóloga destaca ainda que as mulheres são mais propensas a seguir as regras de trânsito e a dirigir com mais cautela, o que contribui para a redução do número de acidentes. “Elas estão mais atentas aos limites de velocidade, usam o cinto de segurança com mais frequência e evitam dirigir sob efeito de álcool”, afirma a psicóloga.
Diferenças na percepção espacial
Outro fator que pode explicar a menor taxa de acidentes entre as mulheres é a diferença na percepção espacial. Enquanto os homens tendem a se guiar por uma lógica geocêntrica, utilizando pontos de referência para se localizar, as mulheres utilizam uma perspectiva egocêntrica, focando em detalhes e pontos de referência específicos.
Essa diferença, longe de ser uma desvantagem, demonstra a capacidade feminina de navegação e memorização. “As mulheres são mais detalhistas e observadoras, o que as torna mais atentas ao ambiente e aos perigos do trânsito”, explica Adalgisa.
Desafios e preconceitos
Apesar dos dados e da análise de especialistas, as mulheres ainda enfrentam desafios e preconceitos no trânsito. O machismo e a descredibilidade, muitas vezes disfarçados de ‘piada’, colocam em xeque a habilidade e a competência feminina ao volante. “É preciso combater esses estereótipos e reconhecer a prudência e a responsabilidade das mulheres no trânsito. A segurança viária é um compromisso de todos, e a participação feminina, com seu histórico de menor índice de acidentes, é um exemplo a ser seguido na construção de um trânsito mais seguro e humanizado”, completa Adalgisa.
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