O presidente mundial do Carrefour, Alexandre Bompard, anunciou que a rede francesa de supermercados não venderá carne originária de países do Mercosul, formado por Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai. A declaração foi feita em um post na conta oficial da empresa no Instagram, onde o executivo expressou solidariedade ao setor agrícola. Ele também compartilhou uma carta enviada a Arnaud Rosseau, presidente da Federação Nacional dos Sindicatos dos Agricultores da França (FNSEA).
Em resposta a questionamentos, a assessoria de imprensa do Carrefour Brasil assegurou que “nada muda nas operações do país” e que a rede continuará a adquirir carne de produtores locais. Essa posição reflete uma estratégia de manter o fornecimento a partir de fornecedores nacionais, mesmo com os desafios impostos por relações comerciais internacionais.
Recentemente, agricultores na França têm protestado contra o acordo comercial entre a União Europeia (UE) e o Mercosul, que consideram uma ameaça à agricultura local. A França tem liderado a objeção ao pacto, que visa criar a maior zona de livre-comércio do mundo, um projeto que se arrasta desde 1999.
O acordo pode resultar em um mercado comum abrangendo 780 milhões de pessoas e movimentar até R$ 274 bilhões em produtos manufaturados e agrícolas. O presidente francês, Emmanuel Macron, durante a cúpula do G20 no Rio de Janeiro, reafirmou que a França não está sozinha em sua oposição ao pacto, citando que as condições originais do acordo estão desatualizadas.
Na carta, Bompard manifestou compreensão sobre a preocupação dos agricultores em relação à proposta de livre-comércio, que pode inundar o mercado francês com carne que não atende aos padrões nacionais. Ele expressou a expectativa de que sua decisão possa inspirar outros setores da indústria alimentícia a apoiar a origem francesa da carne.
Após o anúncio do Carrefour, o Ministério da Agricultura e Pecuária do Brasil emitiu uma nota criticando a posição da empresa. O ministério destacou que não acredita em uma movimentação de empresas francesas para obstruir o acordo comercial.
A Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (ApexBrasil) também se manifestou, defendendo que os produtos brasileiros seguem rigorosos padrões sanitários e ambientais, reconhecidos por diversos países, incluindo na UE. A Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA) considerou as declarações do Carrefour “infelizes e infundadas”.
Enquanto isso, outros países europeus, como Espanha e Alemanha, apoiam a conclusão do pacto com o Mercosul, enfatizando a oportunidade de aumentar as exportações de veículos, maquinários e produtos farmacêuticos. O primeiro-ministro alemão, Olaf Scholz, pediu que o acordo fosse finalizado de forma definitiva, ressaltando os muitos anos de negociações envolvidas.
Os agricultores europeus expressam preocupações em relação às importações de carne, citando a tarifa básica de 7,5% que seria aplicada. Eles argumentam que a produção na América do Sul poderia não atender aos mesmos padrões sanitários e ambientais exigidos na Europa.
Recentemente, uma auditoria da União Europeia revelou que o Brasil não apresenta garantias adequadas de que a produção de carne esteja em conformidade com normas europeias, especialmente no que se refere ao uso de hormônios de crescimento. O ministério brasileiro reafirma seu compromisso com as boas práticas agrícolas em consonância com normas internacionais.
As repercussões dessa decisão do Carrefour e as interações entre os vários atores envolvidos destacam as complexidades do comércio agrícola internacional.