Na quarta-feira, 20 de outubro, o CEO do Carrefour França, Alexandre Bompard, causou repercussão ao anunciar a decisão da rede de interromper a venda de carnes provenientes do Mercosul. Em uma carta endereçada ao presidente da Federação Nacional dos Sindicatos dos Operadores Agrícolas da França, Arnaud Rousseau, Bompard destacou que a medida é uma resposta à preocupação dos agricultores franceses em relação ao potencial acordo de livre-comércio entre a União Europeia e o Mercosul.
O executivo enfatizou que o Carrefour almeja alinhar-se com as preocupações do setor agrícola francês, ressaltando o risco de efeitos negativos no mercado local ao comercializar produtos que não atendem às normas e requisitos europeus. A carta de Bompard menciona ainda a controversa lei antidesmatamento da União Europeia, que proíbe a importação de produtos de áreas desmatadas a partir de 2022, suscitando críticas por parte de produtores e governos de países exportadores como o Brasil.
As declarações de Bompard geraram reações imediatas do governo brasileiro e de diversas entidades do agronegócio. O Ministério da Agricultura e Pecuária do Brasil repudiou a posição do Carrefour, argumentando que a agropecuária brasileira segue as legislações e boas práticas internacionais. A Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (ApexBrasil) denominou a decisão do Carrefour como “lamentável” e enfatizou que não existem justificativas para restrições à carne do Mercosul.
Além disso, uma coalizão de associações do agronegócio, incluindo a Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) e a Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carnes (ABIEC), publicou uma carta expressando descontentamento com a decisão do Carrefour. As entidades sustentaram que, se o Mercosul não é visto como fornecedor adequado para o mercado francês, a mesma lógica se aplica a outros países onde a rede opera.
O Carrefour esclareceu que a suspensão da comercialização de carnes do Mercosul se aplica exclusivamente às lojas na França, enquanto as operações em países como Brasil e Argentina continuarão sem alterações. Apesar disso, o governador do Mato Grosso, Mauro Mendes, manifestou intenção de boicotar o Carrefour em resposta à declaração de Bompard. O ministro da Agricultura, Carlos Fávaro, indicou que o agronegócio brasileiro deverá reconsiderar suas vendas para os mercados do Carrefour no Brasil.
Especialistas apontam que o impacto da decisão do Carrefour para o Brasil será marginal. Segundo Felippe Serigatti, pesquisador da FGV Agro, o mercado de exportação brasileiro está em alta, com uma demanda global significativa por produtos como carne bovina, suína e de aves. Ele destacou que a França, um dos membros mais protecionistas da União Europeia, possui um histórico de pressão contra acordos comerciais que poderiam impactar seus agricultores.
Vale observar que, dos US$ 22 bilhões em carne exportados pelo Brasil em 2023, apenas uma fração de 0,005% foi destinada à França, evidenciando a limitada dependência do país europeu em relação à carne brasileira no comércio internacional.