As preocupações dos pais em relação à educação de seus filhos têm ganhado destaque nos últimos tempos. Uma pesquisa realizada pelo Instituto Datafolha revela que um terço dos responsáveis acredita que seus filhos não estão aprendendo o que deveriam na escola. Esse cenário é um alerta para as autoridades governamentais sobre a necessidade de melhorar a qualidade do ensino.
O estudo, denominado “Opinião das Famílias: Percepções e Contribuições para a Educação Municipal”, foi encomendado pela Fundação Itaú e pela organização Todos Pela Educação e ouviu quase 5.000 pais e responsáveis por crianças e adolescentes de 6 a 18 anos matriculados em escolas públicas.
Natália Fregonesi, coordenadora de Políticas Educacionais da Todos Pela Educação, destaca que os dados da pesquisa refletem uma preocupação real. “Os pais estão percebendo que muitos desafios afetam o ambiente escolar, como a evasão e a falta de motivação dos alunos”, ressalta ela. Essa percepção aponta para a urgência de investimentos e políticas públicas focadas na educação.
A permanência dos alunos na escola também é uma questão crítica. De acordo com os achados, 51% dos entrevistados acreditam que muitos estudantes estão abandonando a escola, com 53% desse percentual entre famílias de baixa renda. Para os responsáveis por crianças nos anos finais do ensino fundamental, esse índice é ainda mais alarmante, alcançando 57%.
Além da evasão, a qualidade do ensino é um ponto central da preocupação dos pais. No caso dos alunos do 1º ao 5º ano do ensino fundamental, 36% dos responsáveis não acreditam que eles estão adquirindo conhecimento adequado. Para os estudantes dos anos finais, esse número sobe para 41%.
A pesquisa também indica que os pais defendem o fortalecimento do ensino de matemática nas escolas, com 91% dos entrevistados considerando essa uma prioridade. Mais de 80% apoiam a ampliação de atividades culturais, esportivas e artísticas, assim como a inclusão de temas relacionados à diversidade étnico-racial. Fregonesi afirma que há uma consciência crescente sobre a lacuna existente nos índices educacionais, especialmente em matemática.
Resultados de um estudo internacional recente mostraram que mais da metade dos alunos brasileiros do ensino fundamental não dominam conceitos básicos de matemática. O Estudo Internacional de Tendências em Matemática e Ciências (Timss) revelou que muitos estudantes mal conseguem realizar operações simples, evidenciando os desafios enfrentados pela educação no Brasil.
Outra medida que ganha apoio é a expansão das escolas em tempo integral, com 30% dos entrevistados colocando essa ação como prioridade para as próximas gestões. A proposta é que essas escolas ofereçam uma jornada educacional mais abrangente, possibilitando o reforço em disciplinas fundamentais como matemática.
O governo federal, por sua vez, anunciou o Programa Educação em Tempo Integral, com o objetivo de expandir as vagas em escolas que oferecem uma carga horária ampliada. A meta é atingir cerca de 3,2 milhões de matrículas até 2026, através de apoio financeiro e técnico a estados e municípios.
Outros aspectos que os pais consideram urgentes incluem a melhoria da infraestrutura das escolas (20%) e das condições de trabalho dos professores (17%), além de investimentos na alfabetização (17%). A pesquisa identificou que a demanda por melhorias de infraestrutura é especialmente forte entre famílias das regiões Norte e Nordeste.
Finalmente, a valorização dos professores se destaca como um ponto crucial para garantir a aprendizagem. Setenta por cento dos responsáveis afirmam que seus filhos se sentem acolhidos pelos educadores. A grande maioria (86%) acredita que um maior acompanhamento do desenvolvimento dos alunos e melhor formação dos docentes são essenciais para melhorar a educação.
Realizada entre julho e agosto de 2024, a pesquisa incluiu entrevistas presenciais e telefônicas, garantindo uma amostragem representativa das cinco regiões do Brasil. Os resultados evidenciam a urgência de um diálogo aberto entre famílias, educadores e gestores, para que as soluções possam ser implementadas e a qualidade do ensino seja restaurada.