Os conflitos na Síria, que se intensificaram ao longo de mais de uma década, resultaram na derrubada do regime de Bashar al-Assad com o auxílio de várias potências estrangeiras. Esses países, incluindo Qatar, Arábia Saudita, Turquia, Estados Unidos, Israel e nações europeias, forneceram treinamento, armas e financiamento a diferentes grupos armados de oposição.
Impacto de Grupos Extremistas
Especialistas em Oriente Médio alertam que a presença de grupos extremistas entre os rebeldes sírios, reconhecidos como terroristas por diversos países, aumenta o risco de surgimento de uma nova teocracia islâmica no país. De acordo com Marcelo Buzetto, pós-doutor em Ciências Sociais e especialista em Relações Internacionais, a guerra na Síria, que teve início em 2011, não se caracteriza como uma guerra civil convencional, mas sim como um conflito internacional que atraiu a atenção de potências globais.
Financiamento e Apoio Internacional
Os rebeldes que desafiaram Assad receberam apoio financeiro e logístico de diversos países, conforme detalha Buzetto. Essa dinâmica reflete a complexidade do conflito, onde cada nação contribui de diferentes maneiras, seja com recursos financeiros, armamento ou informações.
Influência do Extremismo Jihadista
No contexto da guerra, Luiz Alberto Moniz Bandeira, autor do livro “A Segunda Guerra-Fria”, discute o recrutamento de jihadistas após a derrubada de Muammar Gaddafi, especialmente na Líbia. Os jihadistas, que promovem a “guerra santa” com o objetivo de estabelecer a Sharia, encontraram na guerra da Síria um novo campo de atuação, apoiados por nações como Turquia e potências ocidentais.
Os Objetivos das Potências Regionais
Leonardo Trevisan, professor de Relações Internacionais, destaca o interesse das monarquias sunitas, de Israel e das potências ocidentais em promover a instabilidade na Síria como forma de isolar o Irã, que é uma potência xiita e aliada do regime de Assad. A queda de Assad poderia facilitar a normalização das relações entre países árabes e Israel, conforme os chamados Acordos de Abraão.
Apoio ao Regime de Assad
Por outro lado, Rússia, Irã e Hezbollah sustentaram Assad em sua luta contra os grupos opositores, formando o Eixo da Resistência, uma coalizão contrária à hegemonia dos EUA e de Israel na região. O Irã, em particular, reconhece que a derrubada de Assad afetaria a força desse Eixo.
Geopolítica e Gasodutos
A geografia da Síria a coloca como um ponto estratégico na disputa geopolítica entre Ocidente e potências como Rússia e China. A construção de um gasoduto que atravessaria a Síria foi um dos fatores que influenciaram a guerra iniciada em 2011. Segundo Buzetto, Assad teria que romper ligações com Rússia e Irã para aceitar projetos de gasodutos propostos pelas monarquias árabes, mas optou por uma aliança prioritária com esses países.
A Atuação da Turquia
A Turquia, por sua vez, tem desempenhado um papel significativo no conflito, tendo como preocupação o fortalecimento do PKK, grupo curdo que representa uma ameaça à estabilidade de seu regime. A resistência turca a um Estado curdo na fronteira reflete a busca por segurança interna no país.
Extremismos e a Possibilidade de um Novo Califa
A ascensão de grupos como Hayat Thrir al-Sham, que surgiram de vínculos com a Al Qaeda, representa uma ameaça ao secularismo que caracterizou o regime de Assad. A ideologia wahabista desses grupos, promovida por nações como a Arábia Saudita, traz riscos à segurança e à liberdade, podendo levar à instalação de uma teocracia islâmica.
Denúncias de Abusos de Direitos Humanos
A situação na Síria é alarmante, com a Comissão Internacional Independente de Investigação da ONU reportando abusos de direitos humanos cometidos por grupos rebeldes, incluindo torturas, execuções e prisões arbitrárias, reforçando a complexidade e a gravidade da crise humanitária no país.