A Venezuela, detentora das maiores reservas comprovadas de petróleo do mundo, se prepara para um importante evento eleitoral neste domingo (28). O país, que vive um momento crítico devido às suas relações tensas com potências ocidentais e proximidade com China, Rússia e Irã, terá eleições presidenciais com amplas implicações geopolíticas, conforme avaliado por especialistas consultados.
Implicações internacionais
O professor de relações internacionais do Instituto Brasileiro de Mercado de Capitais (Ibmec), Alexandre Pires, ressaltou que, se Nicolás Maduro permanecer no poder, o bloco de países formado por China, Rússia e Irã manterá um importante parceiro na América do Sul. Em contraste, uma vitória da oposição pode significar um realinhamento político com os Estados Unidos.
“Embora o contato e as parcerias provavelmente sejam mantidos, especialmente no nível econômico, a Venezuela poderia entrar em uma situação de maior normalidade, talvez conseguindo restabelecer laços com os Estados Unidos, país do qual são muito dependentes, especialmente para escoar o petróleo, além de Espanha e Europa Ocidental”, afirmou Pires.
Investimentos e produção petrolífera
Pires também destacou que uma vitória da oposição poderia estimular investimentos no setor petroleiro, recuperando a principal indústria do país. “A Venezuela conseguiria colocar mais petróleo no mercado, influenciando os preços internacionais e entrando em rota de colisão com parceiros da Opep. Não saberíamos se manteria a relação com a Opep ou se inclinaria a aumentar sua capacidade produtiva com mais investimentos”, completou.
Estabilidade política
Nildo Ouriques, professor de relações internacionais da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), ressaltou que o petróleo é um fator crucial para a instabilidade política na Venezuela. “A América Latina não pode trabalhar com o conceito de estabilidade política porque estamos submetidos à pressão imperialista. Nenhum país sob pressão imperialista pode falar em estabilidade política”, afirmou.
Ouriques também mencionou a capacidade de mobilização dos chavistas, partidários das ideias de Hugo Chávez. “Se a oposição vencer, os bolivarianos têm capacidade de mobilização e poderão pressionar contra o governo. Se Maduro vencer novamente, a oposição continuará a luta, apoiada pelos EUA e pelos meios de comunicação”, completou.
Efeito simbólico
Luis Salas, sociólogo e economista político venezuelano, destacou que uma vitória da oposição teria um importante efeito simbólico, além das implicações geopolíticas. “Um governo de Edmundo González e María Corina Machado significaria um alinhamento com governos reacionários na América Latina, resultando em uma mudança geopolítica significativa”, afirmou.
Cenário eleitoral
Cerca de 21 milhões de venezuelanos estão aptos a votar no próximo domingo. Esta é a primeira eleição desde 2015 em que toda a oposição participa. O país enfrenta um bloqueio financeiro e comercial desde 2017 e uma grave crise econômica, que resultou na migração de mais de 7 milhões de pessoas.
Desde 2021, a economia vem mostrando sinais de recuperação, com o controle da hiperinflação e crescimento econômico em 2022 e 2023. No entanto, os salários continuam baixos e os serviços públicos deteriorados.
O embargo econômico está sendo parcialmente flexibilizado desde 2022, e um acordo entre governo e oposição foi firmado para estas eleições. No entanto, denúncias de prisões de opositores e recusas de alguns candidatos da oposição a assinar acordo para respeitar o resultado eleitoral lançam dúvidas sobre o cenário pós-eleitoral.