As hepatites virais causam a morte de cerca de 3.500 pessoas por dia em todo o mundo. A informação é do Relatório Global sobre Hepatites de 2024, divulgado pela Organização Mundial da Saúde (OMS). O mês de maio é conhecido também como “Maio Vermelho”, com a intenção de divulgar mais conhecimento e atenção sobre a hepatite. Confira a entrevista com a médica infectologista do Hucam-Ufes/Ebserh Tania Reuter para esclarecer como é feito o diagnóstico e quais são os principais cuidados e tratamentos relacionados à doença.
O que é a hepatite?
Tania Reuter: A hepatite infecciosa é uma inflamação do fígado que pode ser causada por cinco principais tipos de vírus, chamados de tipos A, B, C, D e E. Atualmente, existem 10 tipos de vírus de hepatites virais, os que mais circulam no nosso meio são hepatite B, hepatite C e hepatite A.
Qual o tipo de hepatites que mais prevalece?
Tania Reuter: Predominantemente, os pacientes do Hucam são portadores de hepatite B, pessoas com a média de idade entre 48 e 50 anos, que nunca foram vacinadas porque quando elas nasceram o Brasil ainda não vacinava (o Brasil começou a vacinar a partir de 1994). Essas pessoas frequentemente têm um mecanismo de transmissão vertical, ou seja, a mãe durante a gravidez ou parto transmitiu hepatite B e a pessoa passa uma vida toda assintomática sem saber. Em relação ao perfil homem e mulher é quase que meio a meio, um pouco mais homens do que mulheres (60% homens, 40% mulheres), também uma boa parte sendo assintomáticos.
Como é feito o diagnóstico de hepatites?
Tania Reuter: Inicialmente o diagnóstico é clínico-laboratorial. Clínico o paciente pode ter desde sintomas leves, como náusea, vômito, dor abdominal até uma síndrome ictérica (olhos amarelos, urina escura e fezes brancas) ou então nenhum sintoma, como é a maioria dos casos. Quando não se apresenta nenhum sintoma, o diagnóstico se faz através de hipótese epidemiológica: hepatite A alimentos contaminados, água não tratada; hepatite B transmissão vertical ou de mãe ou de pai para filho (a mãe durante a gravidez ou no parto e o pai na primeira infância), também tem a epidemiologia de transmissão sexual e, menos frequentemente, a transmissão sanguínea pelo compartilhamento de agulhas. No caso da hepatite C, o diagnóstico também é clínico-laboratorial, frequentemente mais laboratorial do que clínico porque é uma infecção assintomática e a epidemiologia é por compartilhamento de agulhas ou então, o que era mais frequente antigamente, com o uso de instrumento perfurocortantes como alicates de unha e transfusão sanguínea. Observa-se maior frequência também por conta de tatuagens (agulha para fazer tatuagens) e compartilhamento de uso de canudos para uso inalável de cocaína ou compartilhamento de agulha para cocaína ou heroína.
É importante fazer testagem para hepatites?
Tania Reuter: Sim, principalmente para essas pessoas acima de 40 anos, todas devem fazer pelo menos uma testagem de hepatite B e C porque estas hepatites podem causar câncer e cirrose no fígado, mesmo sem a pessoa nunca ter tomado bebida alcoólica.
Como é a atuação do ambulatório do Hucam?
Tania Reuter: No Centro de Infectologia do Hucam–Ufes/Ebserh atendemos cerca de 36 consultas por semana para acompanhamento de pacientes com hepatites virais matriculados no nosso serviço. Temos hoje 875 pacientes com hepatite B e cerca de 120 pacientes com hepatite C. Nossos pacientes são referenciados pelas unidades básicas de saúde. Disponibilizamos cinco novas consultas por semana para portadores de hepatites virais, dispomos de uma equipe multiprofissional composta por médico, enfermeiro, assistente social, psicólogo e farmacêutico.
Qual o principal desafio no tratamento das hepatites? Está sendo desenvolvido novos projetos no ambulatório?
Tania Reuter: O Ambulatório de Hepatites Virais do Hucam é grande, existe há 20 anos, desde 2005, sendo um centro bem forte em pesquisa clínica, estudos de fase 2, 3 e 4, principalmente HIV e hepatites virais C e B. Atualmente a gente tem uns 850 pacientes sendo que mais ou menos 300 estão tratamento. Agora, pacientes com o vírus da hepatite C são poucos, os que chegam a gente trata, cura e libera, dando alta ambulatorial. Enfim, acho que os hepatite B é que são o atual desafio. Atualmente nós temos três projetos em andamento para hepatite B, dois de minha autoria e um de uma nova medicação, estudo de fase 3. Ao todo, nesses três estudos, um deles eu tenho 73 pacientes, no outro eu tenho 141 e nesse novo eu tenho 13 pacientes para fazer acompanhamento por dois anos. Temos também mais três projetos de hepatite B para ser iniciado nos próximos 12 meses, no período a contar de agora dentro de um ano, predominantemente mais para o segundo semestre de 2025.