Um estudo conjunto de pesquisadores da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) confirmou o terceiro caso de transmissão vertical do vírus oropouche no Brasil, caracterizando a passagem do vírus da mãe para o bebê durante a gestação. O incidente, que resultou na morte fetal, ocorreu em agosto no estado do Ceará.
O caso foi registrado e celebrado na revista científica New England Journal of Medicine, com a divulgação feita pela Fiocruz em 6 de novembro. O virologista Felipe Naveca, chefe do Laboratório de Arbovírus e Vírus Hemorrágicos do IOC/Fiocruz, destacou que o estudo evidencia a capacidade do vírus oropouche de causar infecções verticais.
Sobre a Febre Oropouche
A febre oropouche é uma condição provocada por um vírus transmitido, em sua maioria, pelo mosquito Culicoides paraenses, conhecido como maruim ou mosquito-pólvora. Embora sua origem esteja concentrada na região amazônica, a doença vem se espalhando pelo restante do Brasil ao longo de 2024.
Casos no Brasil
Em 2024, surtos de febre oropouche foram relatados em diversos países, incluindo Brasil, Bolívia, Colômbia, Peru e Cuba, além de casos isolados nos Estados Unidos e Europa. Até o momento, o Brasil registrou 8.200 casos de febre oropouche, conforme dados do Ministério da Saúde. Dentre esses casos, dois envolveram transmissão vertical, sendo um em Pernambuco, que resultou em morte fetal, e outro no Acre, que causou anomalias congênitas. Há ainda 20 casos potenciais de transmissão vertical em investigação.
O caso documentado no estudo foi identificado por um grupo de cientistas de várias instituições do Ceará, incluindo a Secretaria de Saúde do Estado e universidades locais. A gestante apresentou sintomas como febre, dores no corpo e na cabeça, na 30ª semana de gestação. Testes realizados no mês seguinte confirmaram a morte fetal.
A presença do vírus oropouche foi confirmada em múltiplos órgãos do feto, incluindo cérebro, pulmão, fígado, cordão umbilical, placenta e líquido cefalorraquidiano. Adicionalmente, exames de sangue confirmaram a infecção da mãe. O sequenciamento genético revelou que o vírus encontrado pertencia à linhagem OROVBR_2015-2024, associada ao aumento de casos de oropouche registrados em 2024.
O virologista Felipe Naveca afirmou que a análise dos genomas indica que o vírus é originário da Região Norte do Brasil e se disseminou por outros países, como Bolívia, Cuba, Estados Unidos e Itália.