O Campeonato Carioca orgulhava-se de ser o mais charmoso do Brasil. Isso acabou faz tempo. Nos últimos anos, é a Casa da Mãe Joana mais famosa do País! Mas o Carioca de 2020 bateu recorde de cabeçadas!
Vejam só. Lembro que escrevi, em fevereiro do ano passado, uma crítica à desorganização do Carioca de 2019. A bagunça começava pelo regulamento, passava pelas arbitragens apavorantes e terminava com um pedido da Federação de Futebol do Rio e do Vasco para que torcedores não fossem ao estádio para o jogo do time cruz-maltino contra o Resende, no dia 13 de fevereiro, pela semifinal da Taça Guanabara — a Ferj confirmou o jogo, mesmo com a chuva impressionante no Rio!
Mais de um ano depois, estamos novamente aqui criticando o campeonato. Novo regulamento confuso, time B e até C de clube grande nas primeiras rodadas, jogos sem transmissão, perseguição da Ferj a Botafogo e Fluminense — que foram contrários ao retorno da competição em junho —, protocolo de segurança que só vale no papel (e olhe lá!), contrato rompidos de transmissão logo na reta final do Campeonato Carioca.

Discrepância também na parte técnica. O Flamengo, atual “Rei da Cocada” no futebol brasileiro, fez TODOS os seus 13 jogos no Maracanã. Enquanto isso, Vasco, Botafogo e Fluminense levaram seus times a Volta Redonda (estádio Raulino de Oliveira), Saquarema (Elcyr Resende), Madureira (Conselheiro Galvão), Cariacica (Kleber Andrade), Bangu (Moça Bonita)… Jogando em gramados e horários horrorosos! Qual a explicação?
Com bola em campo, o Flamengo sobra. E vai sobrar no restante da temporada, até que algum adversário se mostre capaz de bater de frente. Hoje, não tem ninguém. Sendo assim, acho que vai levantar a taça de campeão carioca daqui a dois jogos. Lembrando que, como foi campeão da Taça Guanabara e tem também a melhor campanha geral, o Fla será campeão geral sem necessidade de jogar uma final caso conquiste também a Taça Rio.

Se vou ter saudades do Campeonato Carioca? Não do jeito que está.
Alternativas
Eles já foram os campeonatos mais importantes do calendário dos clubes. Juro! Ganhar um Estadual era tão comemorado quanto um Brasileiro! A rivalidade regional era a responsável pela força que os Estaduais tinham Brasil afora.
Hoje? São “pesos” para os principais clubes do País. Mas também são, ainda, responsáveis por dar a (pouca) visibilidade que os clubes menores tanto precisam. A maioria deles (dos menores) tem apenas o Estadual para disputar na temporada inteira! Não se enganem: essa é a base da pirâmide do futebol brasileiro! Clubes com quatro meses de calendário garantido num ano inteiro!

Só que as surpresas acontecem cada vez menos. Os títulos conquistados por times de menor expressão praticamente não existem mais. Os jogadores revelados por esses mesmos times também viraram raridade. Duvida? Faça o exercício de encontrar dois jogadores do Volta Redonda, time semifinalista da Taça Rio, que você comemoraria caso fossem contratados pelo seu time?
E os Estaduais acabaram virando vilões do apertado calendário do futebol brasileiro.
A pá de cal chegou. O rompimento do contrato de transmissão do Carioca (em andamento!) pela Globo pode ser o início de uma transformação geral nos Estaduais. Se eles vão acabar? Acho que sim. Pelo menos do jeito que o conhecemos hoje. A discussão passa a ser em torno de uma nova forma de apresentação desse tipo de competição. Por exemplo, espalhado pelo ano inteiro, com jogos nos meios de semana?
Ou, quem sabe, acabam de vez. Se isso acontecer, a CBF terá de encontrar uma maneira de cuidar dos clubes da base da pirâmide, aqueles que disputam as Séries C e D do Brasileiro e também os que não disputam divisão alguma. Virão mais divisões por aí? Teremos, por exemplo, Séries E, F e G do Campeonato Brasileiro, regionalizadas?







