O BRICS surgiu como ideia do economista-chefe do banco americano Goldman Sachs em 2001 em um estudo sobre a construção de uma economia global melhor. A ideia chamou muita atenção e ganhou bastante destaque dentre os intelectuais, banqueiros e policy makers na época.
O BRICS consiste em um grupo das principais 4 economias emergentes no mundo, Brasil, Rússia, Índia e China e teria o propósito de facilitar políticas de cooperação entre os países, principalmente no âmbito econômico.
A ideia do BRICS é um produto do pensamento econômico dos anos 2000, isso é, um pensamento bastante otimista e muito favorável à cooperação e multilateralismo político-econômico – vide a criação da União Europeia alguns anos antes.

Diferente da União Europeia, no entanto, o BRICS veio como uma forte chama que se apagou rapidamente.
Com a crise financeira global de 2008 o multilateralismo e a cooperação internacional foram substituídos por pautas de protecionismo e isolamento nacional – movimentos que observamos até hoje. Com a adoção de práticas protecionistas, economias desenvolvidas como a americana e as europeias saíram em praticamente ilesas quando comparadas às emergentes.
Com essa mudança de cenário o BRICS saiu de foco durante a década de 2010 e passou a representar um fantasma do otimismo que um dia existiu sobre as economias emergentes.
Porém, nessa nova década de 2020, graças à pandemia de COVID-19 e à guerra na Ucrânia, a economia global tem se redesenhado, de forma que laços antigos se romperam, novos se formaram e alguns se rearranjaram.

Nesse contexto o BRICS é o grupo de maior destaque, dado a nova inércia que o grupo arranjou. Esse novo destaque se dá por alguns motivos: os esforços para desdolarização da economia global; o ostracismo político-econômico da Rússia perante o oeste global; e interesses dos países membros e não membros perante o grupo.
O dólar é provavelmente o maior instrumento (ou arma, dependendo da ocasião) político-econômica do mundo. Toda a economia global funciona em torno do dólar. Se você quer fazer comércio com um outro país, ambos deverão converter sua moeda em dólar para que a troca possa acontecer, o dólar é o idioma universal da economia global.
Isso dá aos Estados Unidos certos privilégios econômicos ao custo de uma maior liberdade para outros países, principalmente os emergentes e em desenvolvimento.
Com o rearranjo da economia global e novas potências como China e Índia tentando se consolidar em posições páreas às potências mais antigas, muitos esforços têm sido feitos para que essas economias possam funcionar de forma mais independente ao dólar.
O BRICS se tornou um grupo expoente nesta pauta, dado que é o principal espaço de colaboração para essas economias.
As movimentações do grupo nesse sentido atraíram muita atenção de países não membros para o bloco, isso é, as potências olharam com desconfiança e receio e outras economias em desenvolvimento expressaram desejo em ingressar no grupo. A mídia tradicional americana e europeia passaram a representar o BRICS como um rival e competidor – imagem diferente daquela de parceiro criada no início dos anos 2000.
Muito dessa fama se dá pelo protagonismo chinês e envolvimento russo, duas nações cujas imagens foram demonizadas no ocidente. Outros países em desenvolvimento, no entanto, encaram o BRICS como uma oportunidade de desenvolvimento econômico e cooperação internacional com agentes páreos.
Até o momento, mais de 40 países em desenvolvimento expressaram interesse em ingressar no grupo, principalmente países africanos e árabes.
Encontro
É interessante entender que cada um dos 4 membros possui interesses diferentes perante o grupo e seu destino, diferenças essas que serão conversas chaves na nova reunião do bloco que acontecerá no dia 22 a 24 de agosto na África do Sul.
Para a Rússia o BRICS é o principal espaço de cooperação internacional onde ela ainda pode exercer sua influência, dado que ela foi expulsa do G20 em 2016 com a anexação da Criméia e de demais grupos de interesse após invadir a Ucrânia.
A Rússia capitaliza em cima de um sentimento de revanchismo perante o Oeste, principalmente em países africanos. Grande parte dos políticos e da população africana se sentiu excluída dos esforços de cooperação de desenvolvimento e distribuição de vacinas para a COVID-19, vácuo que a China e a Rússia ocuparam.

Esse sentimento recente somado a genocídios e problemas históricos criaram um sentimento de empatia perante a Rússia e China no continente. O BRICS oferece uma plataforma para que a Rússia trabalhe esses novos laços, expandindo sua influência no mundo em desenvolvimento.
É interessante apontar que o presidente russo, Vladimir Putin, foi condenado pelo Tribunal Penal Internacional (TPI) em março deste ano por crimes de guerra cometidos durante a invasão na Ucrânia.
A África do Sul, como membro assinante do TPI teria, portanto, a obrigação de entregar Putin a autoridades internacionais caso ele pisasse em solo sul-africano. Apesar da África do Sul ter declarado que não cumpriria com tais obrigações em eventual visita de Putin para a cúpula, o líder russo decidiu enviar Sergei Lavrov, ministro das relações exteriores, para comparecer em seu lugar.
Para a China o BRICS também representa um espaço para exercer protagonismo e competir com as potências tradicionais, porém diferentemente da Rússia que tem um interesse sobretudo diplomático, a China possui um interesse majoritariamente político-econômico.
A expansão do BRICS é interessante para os chineses para que esse se torne uma plataforma que facilite os investimentos feitos principalmente na África, Ásia central e oriente médio. Esses investimentos trilionários fazem parte, em sua maioria, da iniciativa chinesa chamada Um Cinturão Uma Estrada, que tem como intenção a construção de infraestrutura para aumentar o comércio nos países membros da iniciativa.

O maior obstáculo diplomático para a China dentro do BRICS é a Índia, a segunda maior economia dentro do bloco, país vizinho e cujas tensões tem escalado intensamente – ao ponto de uma altercação armada ter acontecido em 2022 entre os dois países.
O Brasil é o grande mediador do grupo. Alguns fatores possibilitaram que o Brasil assumisse esse papel: a forte tradição diplomática brasileira; os esforços de cooperação internacional e a recepção calorosa pela comunidade internacional do novo governo; o Brasil é o único membro de grupo sem grandes tensões diplomáticas com outros países.

O fato de que Dilma Rousseff foi apontada para a cadeira de presidente do banco dos BRICS evidencia a posição do Brasil de facilitador do bloco. É interessante notar que para o Brasil, diferentemente dos outros membros do grupo, a expansão do bloco não seria benéfica.
A inclusão de novos membros no bloco pode dificultar a manutenção do protagonismo brasileiro pela simples saturação de agentes que passariam a integrar o grupo. Isso pode ser especialmente detrimental para a diplomacia brasileira dado que o ocidente já enxerga o novo governo com certo receio após recentes aproximações com a China e após os comentários de neutralidade do governo sobre a invasão na Ucrânia.
 
	    	 
		    






