Por meio da Íntese, Luiz Ferreira Marangon Macedo oferece valor milionário e propõe formar “pool” de empresas interessadas nas 125 linhas. Suzantur tenta reverter decisão no STJ para seguir à frente das operações
Adamo Bazani
Colaboração: Yuri Sena
A Viação Águia Branca, do Espírito Santo, voltou a pedir o cumprimento urgente da decisão do Tribunal de Justiça de São Paulo, confirmada pelo STJ (Superior Tribunal de Justiça), para que seja assinado um novo contrato de arrendamento das 125 linhas interestaduais do Grupo Itapemirim até a realização do leilão definitivo das operações.
Além disso, o empresário Luiz Ferreira Marangon Macedo, por meio da Íntese Empreendimentos, ofereceu um valor milionário para comprar os ativos do Grupo Itapemirim, propondo formar um “pool” de empresas de ônibus interessadas nas 125 linhas. Marangon foi responsável pela empresa Frotanobre, de Minas Gerais, que acabou indo à falência. Chama atenção o fato de que a Íntese oferece como garantia de pagamento não bens próprios, nem das supostas empresas do “pool”, mas justamente os ativos do Grupo Itapemirim — ou seja, um patrimônio que já pertence aos credores.
(Leia mais adiante os detalhes da proposta.)
ÁGUIA BRANCA
A Águia Branca reiterou à Justiça que possui plenas condições financeiras, estruturais e operacionais para iniciar imediatamente o arrendamento — não de forma integral de uma só vez, mas respeitando o período de transição de até 60 dias.
Como mostrou com exclusividade o Diário do Transporte em 24 de junho de 2025, o juiz Marcelo Stabel de Carvalho Hannoun, da 1ª Vara de Falências e Recuperações Judiciais do TJSP, atendeu recurso da Águia Branca e homologou a proposta da empresa para assumir o lugar da atual arrendatária, a Suzantur, de Santo André (SP), que opera desde 4 de março de 2023, após obter o direito de explorar as linhas, estruturas e marcas da Itapemirim por dois anos — conforme decisão judicial que decretou a falência do grupo em 21 de setembro de 2022.
Em 30 de junho de 2025, o STJ esclareceu que uma decisão anterior sobre a prorrogação do arrendamento em favor da Suzantur perdeu o objeto, com a extinção da liminar que beneficiava a empresa do ABC paulista. Com isso, a Águia Branca passou a estar apta a assumir as operações.
O juiz estipulou condicionantes, como o prazo obrigatório de transição de 60 dias e o pagamento da primeira parcela 45 dias após o início do arrendamento. A Águia Branca já manifestou concordância com todas essas exigências.
Enquanto isso, a Suzantur tenta reverter a decisão no STJ e restabelecer a prorrogação do arrendamento. O contrato de dois anos passou a contar a partir de 27 de fevereiro de 2023, data em que a ANTT (Agência Nacional de Transportes Terrestres) liberou oficialmente as operações — e, portanto, já está vencido. A Suzantur havia conseguido uma prorrogação de 180 dias, mas, antes mesmo do fim do prazo regular, outras empresas apresentaram propostas superiores para um novo arrendamento.
Enquanto a Suzantur pagava o valor mínimo de R$ 200 mil ou 1,5% das vendas físicas de passagens (sem incluir vendas online por app ou site), os novos interessados propuseram ofertas mais elevadas, entre o fim de 2024 e o início de 2025:
• Viação Águia Branca: R$ 3,02 milhões mensais, independentemente da receita;
• Grupo Comporte (Expresso União): R$ 1,71 milhão mensais ou 5,01% da receita líquida de passagens;
• Íntese Empreendimentos (do ex-dono da Frotanobre, Luiz Marangon): R$ 3,05 milhões, mas sem atender aos critérios técnicos exigidos.
A Justiça desclassificou a proposta da Íntese por não atender aos critérios técnicos e homologou a proposta da Águia Branca. Caso a empresa não aceitasse as condições, o Grupo Comporte poderia assumir.
PROPOSTA DE COMPRA
Paralelamente à petição da Águia Branca, uma nova movimentação judicial — revelada com exclusividade pelo Diário do Transporte — mostra que a Íntese Empreendimentos Ltda. apresentou proposta para comprar, sem necessidade de leilão, todos os ativos do Grupo Itapemirim. Isso inclui as 125 linhas interestaduais, guichês, ônibus usados e duas marcas registradas.
A Íntese tem como principal sócio Luiz Ferreira Marangon Macedo, ex-controlador da Frotanobre, empresa de ônibus de Minas Gerais que faliu.
Segundo a proposta, a Íntese ofereceria R$ 366 milhões pela compra, divididos em 12 parcelas mensais de R$ 3,05 milhões — o mesmo valor que havia proposto pelo arrendamento, mas agora com a intenção de aquisição total dos ativos.
A operação seria assumida por um “pool” de empresas que, segundo a proposta, atuam no transporte intermunicipal, interestadual e internacional de passageiros. No entanto, o documento não especifica quais empresas fariam parte do grupo.
O primeiro pagamento ocorreria 45 dias após a assinatura do contrato — cláusula semelhante à imposta à Águia Branca no caso do arrendamento.
O ponto controverso é que, novamente, a garantia do pagamento seria o próprio patrimônio da massa falida da Itapemirim, que não poderia ser negociado até a quitação total, salvo por motivo relevante com autorização judicial.
