O Dia Mundial de Conscientização da Violência Contra a Pessoa Idosa é celebrado nesta quinta-feira, 15 de junho. Histórias de abandono e negligência fazem parte do caminho de violência a que estão submetidos os idosos no Brasil.
No dia em que se aponta para a reflexão a respeito desse problema, muitas vezes não observados na sociedade, os dados são assustadores.
Segundo dados coletados pela Ouvidoria do Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania, nos primeiros cinco meses de 2023, pelo caminho de denúncias do Disque 100 (incluindo telefone, e-mail e redes sociais), o Brasil contabilizou 37.441 casos de negligência, 19.987 de abandono, 129.501 de violência física, 120.351 de violência psicológica e 15.211 de violência financeira.
Houve um aumento em todos eles se comparados aos números do mesmo período do ano passado.
O secretário nacional dos Direitos Humanos da Pessoa Idosa, Alexandre da Silva, avalia que os números vinham sendo subnotificados e que a maior quantidade de denúncias pode significar maior confiabilidade nas instituições de que vai haver alguma providência.
“Um dos nossos focos neste mês alusivo ao enfrentamento da violência contra o idoso (Junho Violeta) é a maior divulgação do Disque 100”.
Ele reconhece que alguns grupos, por diferentes vulnerabilidades sociais, podem estar mais expostos à violência.
Ele diz que os dados têm mostrado que a idade na qual ocorre a violência está começando desde os 60 anos de idade.
“A gente entende que vários cenários podem ser causadores dessa violência, não só o âmbito familiar, mas também das instituições. A nossa prioridade é tirar essa pessoa idosa da cena da violência”.
Pandemia e violência dentro de casa
O secretário contextualiza que o período da pandemia expôs dificuldades extremas para os idosos. “Nós temos, infelizmente ainda, a constatação de que boa parte dessa violência ocorre dentro de casa”.
O médico-gerontólogo Alexandre Kalache, um dos principais pesquisadores brasileiros sobre o assunto, avalia que a pandemia expôs diferentes violências contra os idosos.
“A pandemia nos prestou, de uma forma perversa, o flagrante que o país precisa dar saltos gigantescos para que a gente combata o idadismo, o preconceito contra o idoso. No Brasil, o velho é sempre o outro”.
O pesquisador é presidente do Centro Internacional da Longevidade (International Longevity Centre, ILC Brazil) e co-diretor do Age Friendly Institute, baseado em Boston (Estados Unidos).
“A avaliação que eu faço sobre as políticas para o enfrentamento da violência, da negligência e abandono é que nós temos hoje uma oportunidade histórica para retomar aquilo que vinha sendo feito e que infelizmente sofreu um lapso”.
Para ele, nos últimos anos, não houve reais políticas públicas de proteção a esse grupo da sociedade.
Ele leva em conta que o Brasil será um dos três países que mais rapidamente irá envelhecer até o ano de 2050.
China e Tailândia estão entre as nações que precisam também se organizar para proporcionar dignidade a uma faixa etária que não para de crescer. Levantamento do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostrou que pessoas com 60 anos ou mais chegaram a 31,23 milhões de pessoas.
“Realmente nós perdemos muito tempo. Como você pode justificar que um país que tem 3% da população mundial seja responsável por 11% das mortes pela covid-19. Houve muito desleixo porque as principais vítimas da pandemia eram pessoas idosas”, afirmou Kalache.
Além disso, as vítimas principais estavam entre as populações mais carentes.
“Ribeirinhas, favelados, população negra e indígenas, quilombolas… A vulnerabilidade no Brasil é da desigualdade social. Você se torna um idoso entre aspas, não por ter cumprido um determinado número de anos, mas por você ter comorbidades”.
O secretário Alexandre da Silva entende que as soluções passam por ações educativas.
“É necessário entender que muitas vezes essa violência começa pequenininha, com um apelido, com o uso indevido do dinheiro da pessoa idosa. Mas envolve também ações físicas, psicológicas, sexuais, e o aumento das violências patrimoniais”.
Ele diz que o governo vai apresentar uma série de ações para minimizar as violências, e fortalecer as parcerias com estados e municípios.
“O importante é que o idoso nunca se cale. Ele nunca deve consentir com nenhum tipo de violência”.
Para isso, segundo orienta o secretário, é possível a todos os cidadãos encontrarem algum órgão com um serviço de saúde ou um espaço socioassistencial, como os Cras e Creas, que são os centros de referência de assistência social.
 
	    	 
		    








