Corrida de rua conquista mulheres que buscam equilíbrio e qualidade de vida

Vida acelerada, trânsito, trabalho, filhos, casa pra cuidar. Quem nunca se sentiu sem tempo pra cuidar da própria saúde, seja a saúde física ou mental?

Dormir exausta e acordar com a sensação de que não descansou nem um décimo do que precisava é cada vez mais comum entre mulheres do Brasil inteiro. E buscar alternativas para amenizar essa situação é primordial para reencontrar o equilíbrio e ter a tão sonhada qualidade de vida.

Neste cenário, a corrida de rua ganha cada vez mais adeptas. Num mercado que varia de 5 a 11 milhões de praticantes no Brasil, de acordo com especialistas consultados pelo Sebrae, aumentou o número de pessoas que buscam essa atividade física como forma de melhorar a saúde e o bem-estar.

Um levantamento feito pela Ticket Sports — maior plataforma de vendas de inscrições para eventos esportivos da América Latina — em janeiro de 2023 aponta que as mulheres já respondem por 45% das inscrições nos eventos.

E já é comum encontrar provas de corrida com mais mulheres inscritas do que homens. Já existem também provas exclusivas para mulheres, como a Girl Power, que tem etapas em diferentes cidades e inscrição gratuita.

Mas por que a corrida de rua tem atraído tanto o público feminino?

“Quando eu corro, eu me conecto comigo mesma. É comum eu sair pra correr e, quando volto pra casa, volto com soluções ou insights para várias situações que vinham me incomodando”, explica a personal trainer e instrutora de corrida Alê Junqueira.

E não é coincidência. Além dos inúmeros benefícios físicos que correr traz à praticante, como perda de peso, melhora do tônus muscular e melhora da condição cardiorrespiratória, a corrida libera hormônios associados às sensações de bem-estar e prazer, como endorfina e dopamina.

“São hormônios poderosos que transmitem essas sensações de bem-estar, de relaxamento, de prazer. Isso aumenta também a disposição da pessoa no dia a dia. Mas há outro ponto importante nessa equação que é a melhora da autoestima. A corrida ajuda a mulher a perder o excesso de peso, melhora o tônus muscular, melhora até a postura. E esse conjunto atua direto na melhora da autoestima. É incrível ver a transformação das alunas e eu faço questão de ensiná-las a comemorar cada pequena mudança”, conta Alê.

Ela destaca outro ponto que favorece a corrida em comparação a outras atividades físicas como crossfit, musculação ou ginástica localizada.

“Você pode correr em qualquer lugar. Ou seja, você não precisa perder o tempo que você perderia no deslocamento até a academia, por exemplo. Você sai do portão da sua casa ou do seu prédio e já pode começar o treino ali mesmo. Você também pode ‘levar a corrida’ pra qualquer lugar. Se você é uma pessoa que viaja muito a trabalho, por exemplo, dá pra levar o tênis e correr onde quer que você esteja, sem precisar se preocupar se o seu hotel tem uma academia conveniada com seu plano, por exemplo.”

Terapia ao ar Livre

A corrida também é uma forte aliada no controle da ansiedade, do estresse, da depressão e até da Síndrome do Pânico.

“Eu tive um episódio de Síndrome do Pânico em São Paulo, no trânsito, depois de deixar meu filho na creche. Fiquei paralisada, com palpitação e achei que fosse infartar. Pedi ajuda a um desconhecido, que aceitou dirigir o meu carro e me levou a um hospital. Foi horrível!”, conta a servidora pública Michelle Perroni, 41 anos.

Foi somente depois desse episódio que ela ligou o alerta e entendeu que precisava de uma alternativa para melhorar a qualidade de vida. E encontrou na corrida o “remédio” ideal.

“Comecei do zero e ficava assustada nos primeiros treinos assim que minha frequência cardíaca aumentava. Pra completar, sou asmática! Mas fui entendendo melhor meu corpo com os passar dos treinamentos. Hoje, já corri mais de 20 provas oficiais, com distâncias de 5km a 16km! E tô querendo correr minha primeira meia maratona (21km). Hoje tô liberada pelos médicos e não preciso tomar remédios pra ansiedade, não preciso mais da bombinha pra asma e não tive mais crises de Síndrome do Pânico!. Foi a melhor decisão da minha vida”, comemora Michelle.

Como começar a correr

Apesar de parecer 100% intuitivo, o ato de começar a correr precisa ser bem orientado por um profissional de Educação Física. Um treino bem orientado reduz os riscos de lesões articulares e musculares e aumenta a eficiência da corredora.

“Quando você quer aprender a jogar tênis, você faz o quê? Procura um professor de tênis, certo? Na corrida, não é diferente. Só que muitas mulheres acreditam que podem começar a correr sozinhas. Aí, quando não conseguem por falta de fôlego ou porque sentiram dores nos joelhos, por exemplo, ficam frustradas e desistem. São aquelas que pensam que ‘eu não nasci pra correr’. Mas não existe isso. Todo mundo pode correr, desde que seja treinada para isso do jeito certo”, explica Alê Junqueira.

Para as mulheres iniciantes, a instrutora explica que o ideal é combinar estímulos de caminhada com trote bem leve. Com a sequência de treinos, os intervalos de caminhada vão sendo reduzidos até que a pessoa consiga correr sem parar.

“O principal de um bom treinamento é adequar o volume e a intensidade ao nível de condicionamento físico da pessoa. Esse ajuste é primordial. Por isso, não é indicado você simplesmente copiar o treino da sua amiga que já começou a correr antes de você e tentar fazer sozinha.”

Mas se você ainda quer testar se consegue ou não dar os seus primeiros passos na corrida, a professora deixou aqui uma sequência inicial padrão de treinamento para as iniciantes. Que tal experimentar?

Quem é a Alê Junqueira?

Personal trainer, corredora e instrutora de corrida há mais de 20 anos, Alê Junqueira é criadora do canal Eu Sou Dessas, especializado em corrida de rua para mulheres.

Criou a metodologia de treinos Eu Sou Dessas, com tecnologia de audiotreinos on-line, e tem alunas hoje em todas as regiões do Brasil e em Portugal, para onde vai em outubro de 2023 para participar da Maratona de Lisboa.