Como resposta ao Holocausto e todo sentimento antissemita experienciado durante a segunda guerra mundial, a então recém-formada ONU cria o Estado de Israel em 1948 afim de oferecer um espaço seguro a todos os judeus que desejassem. O novo Estado fora criado em cima da ideia da partilha de território com a Palestina, Estado que já existia formalmente há quase uma década antes da partilha de território e que não foi consultado sobre a partilha – o povo denominado palestino já habitava a região antes mesmo da criação do Estado da Palestina que veio a surgir somente com a descolonização do Oriente Médio. É válido destacar que, enquanto não existe nenhuma norma sobre a criação de um novo Estado, Israel é o único exemplo em toda história humana em que uma organização internacional criou um novo Estado, ainda mais um que partilharia território de outro Estado já consolidado. Dois fatores explicam o que permitiu que esse fenômeno acontecesse: a força da ONU no momento imediato após o fim da segunda guerra e o fato que o Estado palestino estava sobre tutela britânica – que se interessava na criação de um novo Estado não árabe no Oriente Médio.
A premissa de uma partilha de território de forma pacífica não conseguiu ser executada. Os conflitos entre os dois Estados começaram rapidamente e se mantiveram desde então. Com o decorrer das décadas Israel, com apoio financeiro e militar dos EUA e Europa, se expandiu para além do que havia sido estabelecido em 1948. A diferença de poder entre Israel e Palestina aumentou de forma que o conflito morfou-se para uma dinâmica de dominação perpétua por parte de Israel. Em resposta ao domínio exercido por Israel o Hamas, organização terrorista, radical e não estatal, surge em 1987 com o objetivo declarado de destruir o Estado de Israel. Depois dos ataques recentes por parte do Hamas, Israel tem respondido atacando toda a Faixa de Gaza – um dos dois territórios de soberania palestina, onde o Hamas está.
O aquecimento dessa pauta perante a mídia internacional tem movimentado uma nova perspectiva sobre o conflito, uma que coloca Israel como um Estado colonial na região. Essa lógica é sustentada por dois fatores: primeiro, a dinâmica de dominação perpétua que Israel estabeleceu em relação à Palestina e sua população – indígena ao território. Segundo, devido ao apoio financeiro e militar de antigas potências coloniais e imperialistas (EUA, Inglaterra, França etc.) a Israel. Essa perspectiva acomoda o apoio de outros países árabes à Palestina e o repúdio desses sobre Israel. A Palestina surge junto com a maioria desses outros Estados árabes no processo de descolonização do Oriente médio após a primeira guerra mundial. Quando colocado sobre uma perspectiva histórica árabe, o Estado de Israel é um vestígio colonial. Um intruso criado pelas potências que um dia colonizaram a região e que, através de muita luta haviam sido expulsas.
O fato que os órgãos internacionais liderados por essas potências coloniais terem suprimido quaisquer iniciativas pela paz também é acomodado por essa lógica. A principal dessas tentativas, lideradas pelo Brasil, foi a proposta de uma pausa humanitária no conflito que foi apresentada ao conselho de segurança da ONU. A proposta redigida pelo Brasil acomodava demandas de todas os países votantes, porém foi vetada pelo EUA – o maior apoiador de Israel. A justificativa dada ao veto foi a ausência do reconhecimento do direito de autodefesa de Israel perante os ataques, argumento fortemente criticado dado que esse direito é inerente a todos os países que assinaram a carta da ONU e, portanto, não precisaria ser reconhecido na proposta. O veto se deu quando Joe Biden, presidente americana, estava indo à região para conversar de forma exclusiva com os líderes israelenses – tomando toda a agência de conversas para a paz para suas próprias mãos.
Em suma, o crescente amontoado de dinâmicas internacionais de poder sobre este conflito passa cada vez mais a espelhar aquelas vistas em tempos coloniais de séculos passados. Isso somado aos nem citados crimes de guerra cometidos, admitidos, observados e não-punidos de Israel colaboram ainda mais a sustentação dessa lógica.
 
	    	 
		    






