A situação da segurança pública em municípios das regiões Noroeste e Norte foi discutida em audiência pública na noite da última quinta-feira (25), em Nova Venécia.
O aumento do número de homicídios e crimes patrimoniais, especialmente o roubo de café, a superlotação de unidades prisionais e a ação das forças policiais no combate ao crime foram temas debatidos.
De acordo com dados da Secretaria de Estado da Segurança Pública (Sesp) apresentados na reunião, Nova Venécia registrou, de janeiro até a primeira quinzena de maio, 7 homicídios contra 2 no mesmo período do ano passado, um aumento de 250%.
Outro município da região que chama a atenção é São Gabriel da Palha, onde os assassinatos subiram 75%, passando de 4 homicídios, no ano passado, para 7.
Além de Nova Venécia, a reunião contemplou as seguintes cidades: Mucurici, Montanha, Ponto Belo, Pinheiros, Vila Pavão, São Gabriel da Palha, Vila Valério e Boa Esperança.
Violência no campo
As ocorrências de roubos e furtos nas propriedades do interior têm tirado a paz dos capixabas. O vice-prefeito de Nova Venécia, Dr. Paulo Roberto (Solidariedade), disse que tem se assustado com casos de crimes contra o patrimônio, como furtos de animais.
No mesmo sentido, o vereador do município Damião Bonomette (PSB) lamentou a falta de efetivo policial suficiente para coibir a ação dos criminosos.
“Sabemos o quanto é importante a patrulha rural da PM para a redução dos casos. A população do município aumenta, mas o efetivo cai”, afirmou o vereador.
O vereador de Vila Valério Adilson Geltner (PT) também se mostrou preocupado com a criminalidade na região.
“Durante a colheita, temos uma rotatividade muito grande de pessoas. É uma cidade violenta. Não tem efetivo suficiente. Pedimos aos deputados que leve essa demanda para que traga mais homens, cão farejador, equipamentos, porque a violência tem sido grande”, argumentou.
O Sindicato dos Trabalhadores Rurais e Agricultores Familiares de Nova Venécia e Vila Pavão também se posicionou sobre o assunto. O secretário de Administração e Finanças, Jefferson César Zampirolli, advertiu que as ocorrências no campo acontecem constantemente, não só na época da colheita do café.
Segundo pontuou, é preciso que o efetivo policial atue de forma permanente, e não apenas em determinadas épocas, já que há safras importantes como a da pimenta do reino, além do gado.
“Tivemos, recentemente, o furto de equipamentos de irrigação avaliados em R$ 30 mil. Sabemos que o que mais inibe os bandidos é a presença da polícia. Se não mudarmos leis, vamos continuar à mercê dos bandidos”, disse.
O titular da 17ª Delegacia Regional de Nova Venécia, delegado Douglas Sperandio, pediu auxílio da bancada federal capixaba para que as leis sejam mais fortes contra esse tipo de delito.
“É importante que a pessoa sinta o peso do Estado”, disse.
Nova delegacia
O presidente do Conselho de Segurança de Nova Venécia, Valdinei Fávero, cobrou pela construção da nova Delegacia Regional do município. Ele reclamou que a falta de salas para os delegados coloca em risco as investigações e intimida as testemunhas.
“Falta dignidade pra quem busca solucionar seus casos. Uma mulher que é vítima de agressão, por exemplo, já está numa situação tensa, tem de contar tudo que passou sem ter ambiente seguro. Não dá. Uma delegacia de qualidade, com estrutura física que atenda bem, o cidadão vai ter maior conforto para procurar a unidade e fazer a denúncia com mais destreza. Isso vai nos ajudar a ter melhores índices da segurança pública”, ponderou Fávero.
Violência às escolas
Mesmo com um bebê de 8 meses em casa, a cirurgiã-dentista Elaine Schumacher foi à audiência para pedir segurança nas unidades de ensino.
“Tenho filho e me preocupo com a crescente violência contra estudantes. É de conhecimento de todos que o governo lançou um plano de segurança nas escolas e em nome de todos os pais, venho implorar que tudo isso saia do papel. Precisamos evitar ocorrências. Queremos segurança e que a gente consiga, em vez de construir presídios, oferecer educação de qualidade”, sugeriu a moradora de Nova Venécia.
Efetivo
O presidente da Câmara de Vereadores de Nova Venécia, Juarez Oliosi (PSB), fez um desabafo sobre o baixo número de policiais para atender ao município.
“Nos anos 70 tínhamos uma população de 25 mil habitantes e contávamos com mais de 500 policiais. Hoje temos o dobro de moradores e apenas 290 homens. E pra somar, o batalhão também é responsável pelos municípios vizinhos”, lamentou.
O comandante da Polícia Militar que atende à região, Ranieri Moulin dos Reis Bayerl, frisou que a área territorial sob cobertura do 2º Batalhão é muito grande e a estratégia é otimizar o efetivo para dar conta da demanda que, além das áreas rurais, também envolve patrulhamento em festas de comunidade, ronda escolar e outras.
“Ratifico sobre a ampliação do cerco inteligente. Precisamos colocar câmeras perto de escolas e nas rodovias. O auxílio da tecnologia é muito importante pra minimizar a necessidade de mais policiais”, defendeu.
Prevenção de acidentes
Preocupado com acidentes de trânsito, o proponente da audiência pública, deputado Mazinho dos Anjos (PSDB), destacou a necessidade de identificar as câmeras do cerco eletrônico que estão sendo instaladas nas rodovias.
“Muitas pessoas confundem o que é radar e o que é cerco eletrônico, o que pode provocar colisões”, afirmou o parlamentar.
Segundo a Sesp, 12 pessoas morreram em acidentes de trânsito em Nova Venécia, no período de janeiro a abril deste ano, reforçando as preocupações do deputado.
Deliberações
Ao final da audiência Pública, o deputado Delegado Danilo Bahiense anunciou propostas que o colegiado deve encampar e que envolvem, entre outras, a construção de uma nova delegacia.
Bahiense destacou também que tem havido problemas na Polícia Civil, como redução das escalas por meio de Indenização Suplementar de Escala Operacional (Iseo), em torno de 15% de queda, e que o teleflagrante não tem funcionado adequadamente.
“Pensa bem. Aqui em Nova Venécia só têm dois policiais na delegacia para receber a ocorrência e ouvir o preso. Com dois servidores, quem conduzirá o preso para o presídio que fica a 90 quilômetros? Infelizmente, a delegacia tem de ficar fechada. Precisamos manter pelo menos quatro ou cinco policiais durante a noite e aos fins de semana”, disse o deputado.
Bahiense também anunciou que cobrará do governo do Estado que mande reforço da patrulha rural, que disponibilize mais equipamentos para identificação da autoria de crimes e que fará contato com o Tribunal de Justiça para que as armas apreendidas com presos sejam logo direcionadas para destruição para evitar ataques às delegacias.
Ciclo de audiências públicas
Com o tema geral “Segurança Pública: Direitos e Prioridades”, a comissão parlamentar discute as demandas locais na área e as necessidades prioritárias de investimento. O grupo já realizou audiência pública em Vila Velha, Cachoeiro de Itapemirim, Guaçuí e Colatina.







