O termo Sul-global tem aparecido bastante em noticiários e discussões políticas internacionais recentemente.
Vários fatores colaboram para essa nova popularidade do termo: desde a ascensão chinesa, o recente destaque dos BRICS,, a recorrente popularidade de investimentos nesses países etc.
Mas afinal, o que é sul-global? Quais são os países que compõe esse grupo? O que define esse conjunto?
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Apesar de sua origem não ser limitada a essa teoria, grande parte do surgimento desse
termo se dá pela teoria pós-colonialista das relações internacionais. Essa teoria serve como uma lente crítica do sistema internacional e não se propõe a ter teor preditivo ou empírico – o que já a diferencia de algumas outras teorias da área.
O pós-colonialismo afirma que os séculos de colonialismo, principalmente dos séculos XVI a XX, organizaram o globo de forma dicotômica e polarizada.
Isso é, os séculos de relações coloniais entre metrópoles e colônias consolidaram uma
organização no sistema internacional em que o Norte (entendido aqui como Europa, Estados Unidos etc.) ocupam as posições de dominantes e o Sul-global (todos aqueles que não pertencem ao norte) ocupam a posição de dominados – tanto no aspecto econômico quanto político.
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Durante o século XX, alguns países do Sul-global começaram movimentos políticos
globais de aceitar seu pertencimento ao Sul-global, porém se reposicionando como países soberanos que não seriam mais explorados pelos mecanismos do Norte.
Brasil
O Brasil, que sempre foi um dos maiores países do Sul-global, fundou durante o século XX uma corrente diplomática de não-alinhamento com grandes potencias. Essa corrente servia como posicionamento de que, como país soberano e digno, o Brasil não tinha obrigação de se alinhar com as potencias da época, EUA e URSS.
Essa corrente diplomática continua sendo exercitada até hoje e se tornou um pilar fundamental da identidade política internacional brasileira. Outros movimentos identitários de cunho similar foram observados desde então em países como a Líbia, Egito, África do Sul, Colômbia, Turquia etc. – por influência brasileira e de muitos outros países.
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Hoje o Sul-global, no entanto, não é composto somente por aqueles países colonizados
durante os séculos XVI e XX. Isso se dá pela queda da URSS e ascensão chinesa. No caso da URSS, países que já foram potencias, mas viram esse status se deteriorar pós 1991 e, no caso Chinês, um país que, em muitos aspectos, saiu da posição de dominado e passou a exercer sua dominância em diversos aspectos.
Colonização
O Sul-global é, portanto, liderado hoje por países que foram colonizados e assumiram seu pertencimento ao grupo como uma ferramenta política (como Brasil e África do Sul), por ex- potências como a Rússia e por novas potências, como a China e, em menor grau, Índia. Não por acaso, esses são os membros originais do BRICS.
Como em qualquer grupo de liderança política há um constante rearranjo de relações e interesses por espaço de liderança – muito movimentado pela dimensão econômica.
FMI
Selecionei para essa matéria alguns gráficos disponibilizados pelo Fundo Monetário
Internacional (FMI) alguns gráficos econômicos que elucidam algumas dessa relações:
 Esses quatro gráficos mostram a exportação de bens e serviços da China, Turquia, Brasil e Índia para a Rússia (vermelho) e Ásia central (azul) no período de 2017 a 2023, respectivamente.
Esses quatro gráficos mostram a exportação de bens e serviços da China, Turquia, Brasil e Índia para a Rússia (vermelho) e Ásia central (azul) no período de 2017 a 2023, respectivamente.
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É de fácil percepção que as exportações brasileiras para a Rússia não seguem a mesma tendencia que a das outas lideranças do Sul-global. As exportações brasileiras são constantes e não verificaram crescimento com o inicia da guerra na Ucrânia.
Enquanto as outras lideranças usam o momento da guerra para expandir relações econômicas com a Rússia, cobrindo demandas abandonadas pelos países do Norte e suas sanções econômicas, o Brasil manteve seu posicionamento afim de favorecer sua imagem como país neutro sobre o conflito.

Liderança
O gráfico acima evidencia um movimento recente de uma diminuição marginal da
liderança chinesa sobre o Sul-global. Liderança essa que até um ano atrás era absolutamente imutável, sólida e incontestável, mas que tem sido enfraquecida pela crise imobiliária que afeta a economia chinesa desde o ano passado.
O que esse gráfico revela é um tendencia econômica inédita no Sul-global de retirada de capital de investimento estrangeiro na China e uma redistribuição desse para outros países do grupo.
Pela primeira vez em 20 anos a China experiência um saldo negativo de investimentos estrangeiros no país enquanto outros países emergentes experienciam crescimento.
Em suma, o enquanto o Sul-global é um grupo tão velho quanto o Norte o fenômeno de
sua organização é bastante recente.
O Norte global possui relações bastante estáticas com o EUA liderando e a Europa em um claro segundo lugar. O mesmo não pode ser dito para o Sul-global, sua organização ainda é imatura e o que se vê hoje, e o que se pode esperar dos próximos anos, é um constante rearranjo dessa organização.
 
	    	 
		    






